Oficina de Comunicação - Fotografia. Um novo olhar sobre o semiárido

Fram Paulo - Comunicador Popular da ASA

Entre os dias 7 e 9 de agosto de 2013, a Articulação Semiárido Brasileiro realizou a Oficina Regional de Comunicação - Fotografia, para a rede de comunicadoras e comunicadores populares dos estados do Ceará, Piauí, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba e Maranhão. Eram cerca de 50 participantes, reunidos em uma casa de retiro na praia de Mundaú, município de Trairi (CE). A oficina foi ministrada pelo fotografo J. R. Ripper, especialista em fotografia documental, social e fotojornalismo.

A oficina possibilitou a compreensão de uma linguagem fotográfica sensitiva, onde há um mergulho emocional em sua composição, experimentando também, nesse processo, a racionalidade, a imersão no universo sociológico, antropológico e político, que altera as formas de ver, descobrir, questionar e mostrar a realidade. Uma linguagem fotográfica que interage com o meio.

Também foi possível compreender que a fotografia, enquanto elemento visual, enquanto expressão artística, científica e tecnológica, contribui para a quebra de estereótipos, ou ao contrário, pode contribuir para reforçá-los. Tomando como exemplo a imagem que se propaga sobre o semiárido, reforçando a falsa ideia de uma região marcada apenas pelo sofrimento, com esqueletos de animais mortos e chão rachado, em virtude da seca, que é um fenômeno natural. Essa imagem acaba refletindo de forma negativa no próprio povo do semiárido, a visão de fora para dentro, a distorção da realidade sem a percepção das potencialidades, das lutas e das conquistas. O sertão pode ser seco por natureza, mas também é verde, há vida e beleza no semiárido tanto no período de estiagem como no período das chuvas. Os elementos que compõem a paisagem natural do semiárido têm a mesma simbologia, que tem a neve para o povo da Europa. Há um povo organizado que luta e sonha por melhores condições de vida.

A vivência, a convivência, os debates, as reflexões e o intercâmbio, levaram os participantes à compreensão de que além de comunicar, a fotografia sensibiliza, provoca dúvidas, gera questionamentos e sugere interpretações diversas. Nesse processo, a fotografia vem como um despertar, criando outra imagem do semiárido, rompendo com a imagem estereotipada, fazendo com que o povo do semiárido se veja, dentro de sua realidade e perceba que o problema do sertão não está no fenômeno natural da seca, o problema do semiárido é o próprio ser humano que tem fracassado em sua relação com a natureza do sertão e nas relações sociopolíticas.

Nesse sentido, o trabalho dos comunicadores populares da ASA é muito importante. A luz do Candeeiro (boletim informativo) compartilha experiências, histórias, ilumina o semiárido com conhecimento e contribui para a compreensão dos fatores que levam aos problemas que afetam a vida no sertão semiárido.  Mostra o que deu e está dando certo, com o registro das transformações do cotidiano das comunidades, no fortalecimento da identidade cultural, intervindo e provocando resultados práticos. É importante que a população do semiárido compreenda que é possível viver bem nessa região, desde que se busquem alternativas de convivência e que as ações políticas sejam comprometidas com essas mudanças.


Outro ponto importante é a questão da identidade cultural, pois a partir da fotografia feita com outro olhar, o semiárido será representado por si mesmo e visto pelo povo do semiárido. Apresentando-se para o sertanejo como um olhar para dentro de si, uma reflexão sobre suas vidas, sua cultura e o meio ambiente. Então, falar do semiárido para o semiárido, não do ponto de vista trágico, mas do ponto de vista da esperança, da busca de caminhos e de soluções para que se possa conviver em harmonia com o meio ambiente.

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