Cordel: Apelo da Natureza - Viva e deixe-me viver!

Deus pai criador do mundo
E o filho redentor
E a terceira pessoa
Dessa trindade de amor
Espírito Santo Divino
Iluminai o destino
Do poeta pensador

Quando falo em criar mundo
Quero passar pra o leitor
Que toda espécie de vida
Foi feita com muito amor
Seja grande ou pequenina
Fazem parte da vitrina
Do mundo do criador

Tudo que se locomove
Eu afirmo com certeza
Com os olhos da poesia
Posso ver essa beleza
Pois cada sopro de vida
Tem uma função definida
Na ordem da natureza

A natureza é perfeita
Nela tudo se completa
A vida é entrelaçada
Em cadeia correta
Numa ordem equilibrada
Na rima metrificada
Da criação do poeta

Natureza é harmonia
É vida, é compensação
Pelo exemplo das árvores
Que chegam à maturação
Quando perdem a beleza
Na terra injetam riqueza
Pra nossa vegetação

No início deste verso
Nesta simples descrição
Quero chamar os leitores
Para esta compreensão
Do nosso meio ambiente
Pois é um dever da gente
Fazer a preservação

Cortar a mata e queimar
De forma desordenada
Provoca o desequilíbrio
Desaparece a morada
Do passarinho que canta
A nossa fauna se espanta
Quando a terra é depenada

A ação do ser humano
Já provocou muito estrago
Cortou, queimou, poluiu
Não sofreu nenhum embargo
O mundo pede clemência
Ou tomamos consciência
Ou o preço será pago

A natureza agredida
Esboça uma reação
Isso é muito natural
É só prestar atenção
Nosso clima está mudado
Os pólos descongelados
O mar em revolução

Aumentou os furacões
Há presença de tornados
Ondas gigantes se formam
O clima descontrolado
O mar sobe, a terra esquenta
O gás raro se ausenta
Como é resultado

A camada de ozônio
Já está comprometida
Desce os raios violetas
Na terra desprotegida
Aumenta a temperatura
Sofre toda criatura
Colocando em risco a vida

A mídia hoje destaca
A questão ambiental
Tentando massificar
Um conceito universal
Formando opinião
Para buscar solução
E combater este mal

Existe muita conversa
De rádio e televisão
Enquanto a sociedade
Não tomar a decisão
De um processo educativo
Vai sofrer todo ser vivo
Sem encontrar a solução

Como tema transversal
Trata-se o meio ambiente
Só na sala de alguns
Professores conscientes
Mas a grande maioria
No plano do dia a dia
Ele passa indiferente

Governos de municípios
Dos estados e da nação
Devem somar os esforços
Pra cuidar da salvação
Do nosso planeta Terra
Que o homem declarou guerra
Fazendo a devastação

Convido a você leitor
Fazer uma regressão
Voltar atrás vinte anos
E faça a comparação
Lembrar alguns passarinhos
Que já estão no caminho
Da fase de extinção

Juriti pouco se escuta
Seu cantar ao meio dia
A maracanã cabocla
Que a plantação invadia
O papagaio deu o fora
Sariema foi embora
Deixando a terra vazia
O canarinho amarelo
Com seu canto verdadeiro
Bateu asas e voou
Sumiu do nosso terreiro
A mãe da lua calou
E a rola fogo pagou
Abandonou o poleiro

Sagui, macaco e tatu
Também desapareceram
Cordunis e inhambu
Se foram ou já morreram
Com o fogo solto na mata
Fugindo da sorte ingrata
Gato e onça se esconderam

A caatinga rarefeita
Pela fúria das queimadas
Desequilibra a fauna
A flora fica arrasada
A terra pede clemência
Ou cessa essa violência
Ou o amanhã será nada

Imburana e catingueira
Das abelhas o abrigo
As produtoras de mel
Fugiram do inimigo
O fogo, a foice, o machado
Na mão do homem malvado
Que representa o perigo

Jandaíra abelha branca
Tubiba e mundurí
Este mel medicinal
Não existe mais aqui
Capuchú de formigueiro
Também seguiram o roteiro
A Cupira e o jati

Quero chamar atenção
Pra outro mal perigoso
O uso desenfreado
Do agrotóxico escabroso
Polui água e alimento
Traz tragédia e sofrimento
Mata tudo, é venenoso

O veneno hoje faz parte
Do “Kit trabalhador”
Não se usa mais enxada
Pra limpar o que plantou
É veneno folha carga
Mata tudo, é uma praga
Adoece o produtor

Uma cultura importada
Invadiu nosso país
Mudou todos nossos hábitos
É a história que diz
A nossa alimentação
Saúde e educação
Não faz a vida feliz

Sou a favor do progresso
Que traga bons resultados
Mas que respeite a cultura
O que por nós foi criado
Valorizando o saber
Nossa forma de viver
Que herdamos do passado

As famílias do sertão
Mudaram assim de repente
Violaram a tradição
Os costumes dessa gente
Tudo em nome do progresso
Viraram pelo inverso
Sonhos de vida decente

A cultura genuína
Criada por nossa gente
Com essa louca invasão
Está muito diferente
A dança, a música mudou
Com essa falta de amor
Nessa corrida indecente

É triste as composições
Só falam de baixaria
É poluição sonora
De baixa categoria
É apelo para o sexo
Um reboleicho sem nexo
A pura pornografia

Um sertão sem cantoria
Sem vaqueiro e sem reisado
Sem leilão e sem novena
Tudo ficou no passado
A saudade invade o peito
De quem não encontrou feito
De ficar modernizado

É inegável a melhora
Na qualidade de vida
A pobreza ainda existe
Mas tem sido combatida
Os programas sociais
Têm ajudado demais
A classe desprotegida

Com a chegada da luz
Iluminando o sertão
Como um piscar de olhos
Chegou a televisão
A família embriagou-se
Todos os laços quebrou-se
Começou a confusão

Cada um quer um programa
A novela, outro jornal
O adolescente quer jogo
Os pequenos o pica-pau
Acabou todo o respeito
Neste lar de todo jeito
O progresso causou mal

Apagou-se aquele fogo
Que no terreiro acendia
Era um sinal, um convite
Que as famílias reunia
O povo não tinha pressa
Nessas rodas de conversa
Menino não se metia

Adultos eram respeitados
Por parte da criançada
Ficavam em outro grupo
No terreiro da morada
Menino, menina e moço
Brincavam de “cai no poço”
Era uma festa animada

O forró era tocado
Pelo melhor sanfoneiro
Um cabra bom no triangulo
Um zabumba e um pandeiro
Xote, baião e xaxado
O salão iluminado
Com a luz do candeeiro

A lua, a fogueira acesa
Energia do sertão
Já não tem nenhum encanto
Depois da televisão
Se é nova, crescente ou cheia
Ninguém mais se devaneia
Com o seu mágico clarão

A lua foi testemunha
De muitas juras de amor
De casais apaixonados
De poeta sonhador
A rainha do sertão
Que tira da escuridão
A alma do pensador

A fogueira no terreiro
É sinônimo de alegria
Antônio, João e  São Pedro
Com novena e romaria
Bingo, quermesse e leilão
São coisas do meu sertão
Que não se vê hoje em dia

Falar a verdade é preciso
Minha vó me ensinou
Esse é meu ponto de vista
Se você gostar, gostou
Se não gostou paciência
Não use de violência
Com prosa de cantador

Caro leitor obrigado
Por ler estes versos meus
Passeando pela rima
Meus pensamentos são seus
Agradeço pela graça
De ver o tempo que passa
Feliz na graça de deus

Todo carinho e ternura
Que dedico ao meu sertão
É sentimento, é pureza
Respeito com a tradição
É necessário o progresso
Mas que não seja adverso
A ordem da criação

Peço as bênçãos do senhor
Que me acompanha lá de cima
Abençoe nossos leitores
Que valorizam esta rima
Das tramas do inimigo
Proteja todos amigos
Do poeta A.F Lima

Sobre o autor:

Antônio Francisco de Lima “Antônio Francisco”, Filho de Antônio Henrique de Lima e Otelina Francisca da Conceição Lima, nascido em 10 de janeiro de 1950, no Sítio Serrote- Pedra Branca, CE.
Sempre ouviu e admirou os cantores de viola de ser compositor. Como cidadão milita numa ONG a favor dos Direitos Humanos, tendo sempre lutado em Sindicatos de trabalhadores rurais e movimentos de Igreja. Seu trabalho busca questionar e discutir a realidade. Adora o sertão, residindo atualmente no Distrito de Tróia, no pé da Serra do Galo- Pedra Branca. Onde mantêm contato com seu povo, sua cultura, meio ambiente e tradições.

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