Encontro Microrregional Iguatu e Saboeiro

 “Essa ciranda não é minha só /É de todos nós / A melodia principal quem tira é a primeira voz.”

Nos dias 02 e 03 de maio de 2014, aconteceu o Encontro Microrregional de intercâmbio e avaliação, do Projeto Água para Todos – Cisternas de Placas. 
Promovido pelo Centro de Defesa dos Direitos Humanos Antônio Conselheiro CDDH-AC através da Fundação Banco do Brasil (FBB), nos municípios Iguatu e Saboeiro (CE).

Houve palestras com os temas: Sementes Crioulas e Agroecologia; debates sobre convivência com o Semiárido; exibição de vídeos com beneficiários narrando às experiências adquiridas ao longo do programa e intercâmbio na Comunidade Baixa Verde em Saboeiro, na propriedade do Seu Raimundo Albani Neto.

A mística de abertura foi conduzida por Débora Alves e Patrícia Félix (CDDH-AC), com música de boas vindas, em seguida Ananias do CDDH-AC relatou o histórico da entidade e enfatizou  que os direitos humanos são bastante amplos e englobam  o acesso à água de qualidade para consumo humano, o direito de produzir e consumir alimentos adequados, educação e vida digna no Semiárido.

O Projeto atingiu os seus objetivos, visando à melhoria da qualidade de vida das famílias, possibilitando o acesso à água para o consumo humano.  “A Fundação Banco do Brasil, em seus programas de  responsabilidade social,  destina parte do recurso para promover o bem-estar”, enfatizou Marlon Vidal gerente dos programas da FBB no CDDH-AC.

Antônio Francisco de Lima (CDDH-AC) ressaltou a importância da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), para o fortalecimento e organização das entidades dessa região. E enfatizou importância da união, conversas e trocas experiências, sobre convivência com o Semiárido.

Intercâmbio na comunidade Baixa Verde

“Nascendo em cima da terra, nessa terra há de viver / vivendo na terra, que essa terra há de comer/Tudo que vive nessa terra, pra essa terra é alimento.”
Trecho da música: Grande poder – Comadre Florzinha.

No segundo dia do encontro, os participantes seguiram rumo à comunidade Baixa Verde no município Saboeiro, para conhecer a experiência agroecológica do Seu Raimundo Albani.

Na chegada foi servido um farto café da manhã com alimentos agroecológicos, produzidos sem agrotóxicos e colhidos ali mesmo, na propriedade. Era banana, laranja, mamão, abacaxi, goiaba, várias vitaminas, tapioca e bolos feitos pela Dona Cátia, esposa de Seu Raimundo.  A família é atendida pelos Programas: Um Milhão de Cisternas (P1MC) e Uma Terra e Duas Águas (P1+2), através das parcerias CDDH-AC e ASA.

Todos estavam bastante curiosos para conhecer de perto à prática agroecológica existente no local. “Quem vê esse pedacinho de terra, não consegue nem imaginar a variedade de culturas que são produzidas aqui”, comenta o agricultor Leônidas, de Senador Pompeu, ao subir na parede da barragem, admirado ao observar pela primeira vez, um sistema agroecológico. 

Conduzidos por uma vereda de mandacarus, que ali foi projetada, todos adentraram ao sistema agroflorestal de Baixa Verde, para que a semente dos ensinamentos do agricultor Raimundo fosse plantada e colhida por cada um.  

Guiados pelo Seu Raimundo e seu filho Albani, que o ajuda nos trabalhos, a equipe foi levada para debaixo de um enorme pé de juazeiro, onde há vários assentos de madeira, preparados para receber grupos de agricultores, estudantes e membros de entidades que costumam fazer intercâmbios naquela propriedade.

A troca de saberes foi iniciada, os mais jovens queriam saber que tipo de árvores eram aquelas, os agricultores e agricultoras mais experientes iam pedindo mudas, buscando saber qual a forma correta de plantar, “por galho ou por semente?”, era o que todos diziam. 

“Se não passarmos a comer esses alimentos saudáveis, produzidos da forma correta como estamos vendo aqui, não vamos viver tanto quanto nossos antepassados, porque a maioria das coisas que colocamos na nossa mesa, a gente não sabe de onde procede”, falou o agricultor Zé da Rosa do município de Milhã.

Leônidas também entrou no debate: “Eu estou mudando muito meus conceitos seu Raimundo, antes eu não cuidava da terra da forma correta, usava  venenos, botava fogo e cada vez que o fogo aumentava eu gritava de alegria. Mas a terra responde como ela pode, a primeira ação dela é criar jurema, que é a forma de se defender e depois ela não é mais fértil. Hoje em dia não pratico mais isso e aos poucos passo o meu conhecimento para meus vizinhos agricultores”. Assim relatou Leônidas.

Há uma grande variedade de plantas nativas, frutífas, hortaliças e plantas medicinais. A beleza e canto dos pássaros livres, as abelhas colhendo mel, muitas borboletas voando entre as pessoas e o som da água caindo nas pequenas barragens, que ali foram preparadas para armazenar água no terreno. Tudo em harmonia como uma orquestra, um instrumento buscando outro para funcionar perfeitamente. A natureza faz questão de se mostrar, querendo falar que é respeitada.

O terreno tem porteiras em várias extremidades, pois os vizinhos que são os familiares de seu Raimundo podem entrar á vontade e colher na hora que precisarem do alimento. “Aqui eu cuido com muito carinho e respeito à natureza, o terreno é meu, mas assim como a natureza me dá, eu compartilho com todos, é assim, quem chegar primeiro pode colher.” 

Por: Karla Samara