Um projeto que estimulou o empreendedorismo na agricultura familiar
O Projeto Família foi concebido a partir da busca de alternativas para substituir a monocultura do algodão que por muitos anos foi a base da economia do município de Senador Pompeu (CE) e entrou em decadência nos meados da década de 80 do século passado, deixando problemas econômicos e ambientais. Foi iniciado no ano de 1999 através da parceria da Cooperativa de Senador Pompeu e a Cooperativa IL CANALE da Itália, parceria conquistada através do Pe. Albino Donati, que nos anos 80 e 90 lutou por melhores condições de vida para os sertanejos que sofriam por falta de ações voltadas para a convivência com fenômeno natural da seca. Foram implantadas três unidades com financiamento e assistência técnica garantida pelo que se chamou de fundo rotativo para o futuro.
O casal Genir Bezerra da Silva Lopes, 49 anos, e Eduardo da Silva Lopes, 49 anos, donos de uma pequena propriedade no Sítio Passagem do Meio, foram beneficiados com o Projeto Família III, no ano de 2000 e até hoje o projeto garante a renda para a subsistência da família, manutenção das atividades e investimentos.
Para receber o projeto, a família passou por capacitações para o manejo adequado das atividades produtivas, gerenciamento da produção e contábil. Para implantar o projeto, a família recebeu um financiamento de 27 mil reais. “No início foi um pouco difícil porque a gente não tinha o costume de vender os produtos, a gente botava as galinhas numa caixa na garupa da moto e saía vendendo aqui pela região mesmo. As pessoas ficavam falando como era que a gente ia deixar de criar gado para criar galinha. Mas deu tudo certo, no primeiro ano a gente conseguiu vender bem e hoje a gente tem um lote com 200 aves”, afirma Genir.
Hoje a família é composta pelo casal, três filhos, a nora e uma neta. Toda a família é envolvida no processo de produção, mas o gerenciamento é de responsabilidade da Genir, tanto a parte de controle financeiro como o gerenciamento da produção. “É tudo muito organizado, anotado, para saber os custos, ganhos e perdas de cada atividade, até o que é tirado para alimentação da família ou doação, passa pelo controle. O gerenciamento é uma das coisas que a gente considera muito importante, para que a atividade ande bem”, explica Genir. Um exemplo citado pelo casal foi com relação à produção de bananas, uma das primeiras atividades. “Nós iniciamos com um hectare de bananeiras, mas depois de cinco anos começou a dar problemas com o vento e as pragas, então a gente substituiu as bananeiras por goiaba e acerola”, diz Eduardo. “Se a gente não fizesse o controle, a gente ia continuar insistindo em uma atividade que estaria tomando o lugar de outra de melhor produtividade”, comenta Genir.
Além do gerenciamento, outra premissa importante do projeto é a produção diversificada, que tem o objetivo de garantir que sempre haverá produtos para atender as necessidades da família e a manutenção do projeto. “Hoje temos a apicultura, avicultura, fruticultura, criação de ovinos, bovinos e suínos, assim quando não está na época da colheita de mel, tem a polpa de frutas”, explica Genir. Dessa forma, a família mantém um padrão constante de colheitas e a estimativa do que se vai colher a médio e longo prazo.
Mais uma tecnologia está sendo implantada na propriedade, é a cisterna-enxurrada de 52 mil litros d'água e uma bomba movida à energia solar que já está em pleno funcionamento. A família já deu início à produção de hortaliças que será mais uma atividade que vai gerar mais renda e qualidade da alimentação da família.
A mata nativa no entorno da área de produção é preservada e serve de refúgio para diversas espécies de pássaros nativos da Caatinga que buscam água e alimento. Eduardo tem um carinho especial pelas árvores, animais e lajedos que ficam nos arredores da casa. Na área preservada estão instaladas 80 colmeias, que produzem mais de 70 baldes de mel por colheita.
Para o beneficiamento do mel, a família construiu em cima de um grande lajedo a casa do mel. Quando não está sendo usada na colheita do mel, a casa é usada para a produção de polpas de frutas. O próprio Eduardo com seu espírito inventivo de agricultor experimentador criou uma máquina para dosagem das embalagens das polpas de frutas.
A produção é vendida para o comércio da região e através do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) da agricultura familiar para a merenda escolar.
O Semiárido passou por uma das maiores secas dos últimos 50 anos, mas não chegou a afetar as atividades produtivas de Eduardo e Genir, que fazem uso de tecnologias apropriadas para a convivência com o Semiárido e produzem de forma orgânica, o que garante a qualidade dos produtos. “No Semiárido dá pra gente conviver muito bem, mas é preciso ter coragem de trabalhar, porque tudo que a gente produz vende”, diz Genir.
Eduardo e Genir se dizem satisfeitos e felizes com o projeto, em treze anos de trabalho, não só conseguiram manter as atividades que iniciaram, foram além, ampliaram e conquistaram a autossuficiência. Aprenderam a produzir através de mecanismos apropriados para a convivência com o Semiárido. É um exemplo de perseverança, de trabalho, empreendedorismo e de superação das adversidades.
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