A
cooperação familiar garante qualidade de vida no Semiárido
O
Açude Patu, no município de Senador Pompeu, Ceará, começou a ser construído no
ano de 1919 do século passado, a obra foi paralisada em 1924. No ano de 1932, o
canteiro de obras abandonado foi transformado em um campo de concentração, uma
grande tragédia, provocada muito mais pelas questões políticas que pelo
fenômeno natural da seca, que teve como consequência o confinamento de 16 mil
sertanejos em condições desumanas e a morte de milhares. Na primeira metade da
década de 1980, durante a retomada das obras, mais uma vez centenas de famílias
foram impactadas, com a remoção de comunidades, desvalorização das terras e
benfeitorias, fato que motivou a organização e mobilização dos agricultores e agricultoras
para reivindicarem seus direitos, até então negados.
No
cenário de lutas e sofrimento do passado, hoje vigora a esperança, o sonho, a superação, conquistas, experiências que promovem mudanças no cotidiano das
famílias e a relação com o Semiárido. Na comunidade Carnaúba dos Marianos, que
fica localizada às margens do Açude Patu, um grupo de agricultores e
agricultoras, formado por três famílias desenvolvem atividades que promovem a
convivência com o Semiárido de forma sustentável. Uma delas é a piscicultura,
que vem garantindo alimento de qualidade e renda para as famílias.
A
atividade foi iniciada através do Projeto Dom Helder Câmera (PDHC), desenvolvido no
município pelo Centro de Defesa dos Direitos Humanos Antônio Conselheiro, com a
implantação de uma unidade demonstrativa no ano de 2009. Com o projeto foi
possível realizar capacitações, intercâmbios, compra das gaiolas, alevinos e
ração para iniciar a produção.
Antes,
por falta de conhecimento, era praticada a pesca predatória, o que levou à
escassez do peixe, acabando com a principal fonte de renda das comunidades do
entorno do açude. Tal fato foi decisivo para uma mudança de postura, no sentido
de se buscar alternativas sustentáveis para a garantia da subsistência das
famílias. “A chegada do Projeto Dom Helder mostrou o que poderia ser feito com
o que a gente tem aqui suficiente, que é água,” relata Sérgio Moreira da Silva,
beneficiário do projeto. Segundo ele, no início eram nove famílias envolvidas,
“hoje são três as famílias que acreditaram e deram continuidade, e já estamos
colhendo os frutos desse investimento, melhorando a renda e a qualidade da
alimentação da nossa família”.
Mesmo
com o fim do projeto, o grupo formado por três famílias, composto por nove
integrantes, entre homens, mulheres e crianças, dão continuidade à produção de
tilápias em gaiolas, nas águas do Açude Patu. O trabalho é realizado em
cooperação familiar, onde todos participam diretamente das atividades, tanto as
mulheres como os homens e as crianças sempre a observarem os pais no sentido de
absorverem o conhecimento e aprenderem a valorizar o trabalho familiar. O
modelo de gestão colaborativa tem sido fundamental para o crescimento da
atividade. Tanto as mulheres quanto os
homens realizam o trabalho de alimentação, pesagem, limpeza e captura dos
peixes. Todos e todas foram enfáticos em afirmar a importância do trabalho
coletivo, da cooperação, onde cada um tem sua função dentro do processo, não
havendo trabalho mais ou menos importante. “Aqui tem a participação da mulher,
que a gente sabe que antes não era valorizada, mas hoje a gente tem consciência
da nossa importância, temos direitos iguais”, explica Dorinha Alves.
Atualmente
o grupo continua recebendo assistência técnica através do Centro de Defesa dos
Direitos Humanos Antônio Conselheiro, por meio dos técnicos do PDHC. Para Sérgio Moreira, a parceria com o
CDDH-AC é fundamental para a continuidade do projeto, tanto com relação à
assistência técnica, como no apoio logístico, para a compra de alevinos, ração
e a comercialização. “O aprendizado é muito importante e a cada dia a gente
aprende coisas novas que melhoram o nosso trabalho”, diz Edival Alves da Silva.
Esse aprendizado é adquirido através da prática, dos intercâmbios e
capacitações. Todo o trabalho é cuidadosamente gerenciado, no sentido de
garantir uma boa produção, organizada através de ciclos, para que sempre tenha
peixe para vender e para a alimentação.
Em
cada ciclo, as famílias colhem cerca de 1500 kg de tilápia. O peixe é vendido
para a merenda escolar do município. “Os nossos filhos, na escola, comem do
peixe que é produzido aqui”, disse em tom emocionado Celso Moreira da Silva. O
grupo sente a necessidade de ampliar o número de gaiolas, adquirir equipamentos
para beneficiamento do peixe para agregar valor. Celso Moreira fala da
necessidade de mais apoio, principalmente das instituições bancárias da região.
Pois se trata de uma atividade que demanda investimentos, sendo que o retorno é
garantido. Mas atribui o descrédito dos bancos ao fato de não ser uma atividade
comum na região. Relata que para ampliar um pouco mais do que foi implantado na
unidade demonstrativa, fez uso de recursos do Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), na modalidade Estiagem, que
possibilitou a compra de mais gaiolas, mas ainda não foi suficiente para
ampliar a quantidade de alevinos. O grupo dispõe atualmente de 36 gaiolas, a
pretensão é comprar mais gaiolas com lucro das próximas vendas. Com isso, abrir
espaço para a comercialização de forma contínua, conquistar mais clientes e
investir em equipamentos para beneficiamento do peixe.
Além
da piscicultura, outras atividades são desenvolvidas: criação de galinha
caipira, apicultura e criação de bovinos. As diversas atividades são
fundamentais, pois uma complementa a outra e garante sustentabilidade da renda
e segurança alimentar das famílias.
Essas
três famílias protagonizam uma história diferente das que ocorreram no entorno
do Açude Patu no passado. A história do bem viver no Semiárido, a história do
aprender a conviver, de criar novas perspectivas de vida. Acreditam no
potencial produtivo do Semiárido, fazendo uso das tecnologias apropriadas para
a região.
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PARABENS AS TRES FAMILIAS QUE ACREDITARAM NO PROJETO,COM CERTEZA COLHERÃO SEUS FRUTOS
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